Índice
📖 Texto Base: Atos 6:1–15; 7:54–60
📖Atos 6:5: “E este parecer contentou a toda a multidão; e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo…”
📖 Atos 6:10: “E não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava.”
📖 Atos 7:54-60:
⁵⁴ E, ouvindo eles isto, enfureciam-se em seus corações, e rangiam os dentes contra ele.
⁵⁵ Mas ele, estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus, e Jesus, que estava à direita de Deus;
⁵⁶ E disse: Eis que vejo os céus abertos, e o Filho do homem, que está em pé à mão direita de Deus.
⁵⁷ Mas eles gritaram com grande voz, taparam os seus ouvidos, e arremeteram unânimes contra ele.
⁵⁸ E, expulsando-o da cidade, o apedrejavam. E as testemunhas depuseram as suas capas aos pés de um jovem chamado Saulo.
⁵⁹ E apedrejaram a Estêvão que em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito.
⁶⁰ E, pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. E, tendo dito isto, adormeceu.
Introdução
Em cada geração, Deus levanta homens e mulheres que brilham em meio às trevas. Estêvão foi um desses — um homem simples, mas extraordinariamente cheio do Espírito Santo. Ele não ocupava o centro do poder, não tinha influência política ou social, mas sua fé inflamou o mundo com coragem e convicção. Num tempo em que a igreja primitiva crescia rapidamente e enfrentava resistência, Estêvão demonstrou que a verdadeira força do cristão não está em seus títulos, mas em seu testemunho.
A história nos mostra que não é o tamanho da voz que move os céus, mas a integridade de um coração rendido. Enquanto muitos se calavam por medo, Estêvão falou com ousadia; enquanto outros se defendiam, ele se entregou em amor. Sua vida e sua morte ecoam até hoje como um lembrete de que a fé autêntica não é apenas professada — é vivida, mesmo sob pressão.
Você já pensou no que significa permanecer fiel quando tudo parece estar contra você? Em tempos de oposição, quando o mundo se fecha e as pedras voam, Deus ainda busca discípulos como Estêvão — cheios do Espírito, cheios de graça e cheios de coragem.
➡️ Ao observarmos a história de Estêvão, aprendemos três marcas que definem o discípulo cheio do Espírito: ele serve com sabedoria, fala com poder e permanece firme até o fim.
1️⃣ Um coração disposto a servir – Atos 6:1–6
¹ Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano.
² E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas.
³ Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre esta necessidade.
⁴ Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra.
⁵ E este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia;
⁶ E os apresentaram ante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos.
Atos 6:1-6
Há pessoas que querem a coroa, mas não querem o pano da mesa. Querem os aplausos do púlpito, mas não a toalha do servo. Estêvão nos ensina que o Reino de Deus é sustentado por quem serve no silêncio, com as mãos que limpam, alimentam e abençoam. Em Atos 6:1–6, vemos um momento crucial na história da igreja primitiva. O crescimento rápido trouxe tensões e desigualdades — as viúvas helenistas estavam sendo negligenciadas na distribuição diária. Os apóstolos, guiados pelo Espírito, reconheceram que não bastava apenas pregar; era preciso também organizar, cuidar e servir com sabedoria. Assim, escolheram sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria — entre eles, Estêvão.
A escolha de Estêvão mostra que Deus não chama os capacitados, mas capacita os disponíveis. Ele não buscou destaque, mas se tornou parte da solução. Enquanto muitos se preocupam com visibilidade, Estêvão se preocupou com fidelidade. Sua vida interior sustentava seu serviço exterior. O texto nos lembra que o ministério prático é tão espiritual quanto o ministério da Palavra. Como disse John Stott, “servir às mesas para a glória de Deus é tão espiritual quanto pregar a Palavra de Deus; tudo é sagrado se for feito para Deus, e nada é sagrado se não for feito para Ele.”
A narrativa de Atos 6 revela que, quando a igreja valoriza o serviço humilde, o resultado é multiplicação e crescimento. O poder do Espírito Santo se manifesta tanto nas mãos que distribuem pão quanto na voz que proclama a verdade. Estêvão entendeu que servir às mesas não era uma tarefa menor, mas um altar de obediência. Ele não esperou um púlpito; construiu o púlpito da sua vida com atitudes.
O apóstolo Paulo ecoa esse princípio em Filipenses 2:5–8: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que… a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo.” Assim como Jesus, Estêvão não se apegou a títulos, mas a um propósito. Ele se esvaziou de si mesmo para encher-se do Espírito. E como afirmou Jesus em Marcos 10:43–45, “quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva.” Estêvão compreendeu esse padrão: a grandeza espiritual nasce no serviço humilde.
Podemos imaginar o ministério de Estêvão como o fundamento invisível de um edifício. Ninguém aplaude as fundações, mas sem elas o prédio desaba. O que sustentou sua coragem diante do Sinédrio em Atos 7 foi o alicerce que ele construiu em Atos 6 — servindo, amando, cuidando. É como disse William Barclay: “Nenhum homem pode pregar a cruz se não estiver disposto a carregá-la.” O serviço de Estêvão foi a sua cruz antes de ser o seu sermão.
Talvez Deus não esteja pedindo que você pregue a multidões, mas que sirva alguém ao seu lado. Comece hoje — lave os pés de alguém com suas atitudes. Sirva com alegria, mesmo que ninguém veja. Porque, enquanto você serve aos outros, Cristo se revela em você.
A grandeza do Reino não se mede por quem sobe o púlpito, mas por quem se ajoelha para servir. Que o Espírito Santo nos dê o mesmo coração de Estêvão — humilde, cheio de fé e disposto a transformar o ordinário em altar.
2️⃣ Uma mente iluminada pela Palavra – Atos 6:8–10; 7:1–53
Atos 6:10 diz: “E não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava.”
Uma mente iluminada pela Palavra não é fruto de boa vontade improvisada, mas da união viva entre o Espírito e a Escritura. Quando tentamos explicar a fé e nos faltam palavras, percebemos: boa intenção não substitui boa instrução. Estêvão era mais que bem-intencionado — era irresistível, pois “ninguém podia resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava” (At 6:10). Sua autoridade não era retórica vazia, mas conhecimento profundo da história de Deus transformado em convicção ardente. Como formar essa mente firme? Fazendo o que Estêvão fez: unir a força do Espírito à solidez da Verdade.
Após ser escolhido entre os sete, Estêvão não se limitou ao serviço prático. Atos 6:8 o descreve “cheio de graça e de poder”, realizando sinais e enfrentando debates com sinagogas da diáspora; e “não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava”. Diante do Sinédrio, Atos 7:1–53 registra o discurso mais longo de Atos: de Abraão a José, de Moisés ao tabernáculo e templo, Estêvão expõe o padrão histórico de resistência do povo aos mensageiros de Deus, apontando o clímax: a rejeição do “Justo”, Jesus. Ele mostra que Deus não está preso a edifícios; Sua presença transcende estruturas e convoca corações obedientes. Resultado: uma palavra saturada de Escritura e atravessada pelo Espírito, ao mesmo tempo profética e pastoral.
Essa leitura se aprofunda quando lembramos que Estêvão não separa serviço de Escritura: ele serve em Atos 6 e explica a Escritura em Atos 7. Seu sermão condensa séculos de história redentiva com precisão teológica, revelando dedicação ao estudo, memória e meditação. A tese de Estêvão é clara: a rejeição de Jesus não foi acidente, mas parte de um padrão antigo de resistência à vontade de Deus. Aplicação direta: “A Palavra de Deus precisa iluminar nossa mente. O crente cheio do Espírito é também cheio da Palavra — Espírito e verdade caminham juntos.”
Por que os opositores não resistiam à sua sabedoria, mesmo dominando a Lei? Porque há diferença entre saber a letra e discernir o sentido. Atos 6:10 afirma a impotência dos adversários; 2Co 3:14–16 lembra que um véu pode encobrir a leitura; Jesus prometeu: “Eu vos darei boca e sabedoria… a que não poderão resistir” (Lc 21:15). Em Estêvão, essa promessa se cumpre: ele não apenas cita; ele interpreta e aplica profeticamente. Lição: autoridade espiritual nasce quando estudo diligente encontra dependência humilde.
Aqui entra a chave espiritual: “Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos guiará em toda a verdade” (Jo 16:13). O Espírito não dispensa a Escritura; Ele a ilumina. E a Escritura não substitui o Espírito; ela oferece a forma que o Espírito enche de vida. Por isso, João Calvino resume: “A Escritura são os óculos pelos quais contemplamos a glória de Deus.” Óculos não criam a luz — ajustam a visão. Assim, sem Escritura o zelo se perde; sem Espírito o estudo se gela.
Pense em duas imagens que explicam Estêvão: a partitura e o sopro, o prisma e a luz. A Bíblia é a partitura, o Espírito é o sopro: ler sem o Espírito é nota morta; buscar o Espírito sem a Escritura é improviso confuso. A Escritura é o prisma, o Espírito é a luz: sem luz o prisma não revela cor; sem prisma a luz se dispersa. Juntos, eles produzem música fiel e cores nítidas — sabedoria que interpreta a vida.
Isso se vê no ritmo da própria preparação de Estêvão: convicção não veio de slogans, mas de meditação; coragem não veio de temperamento, mas de comunhão. Como sintetiza John Piper: “O fogo do Espírito Santo desce sobre a lenha da Palavra de Deus; sem lenha, o fogo não durará. O discurso de Estêvão é a lenha seca e bem organizada da Palavra, acesa pelo fogo do Espírito.” Palavra empilhada em ordem, Espírito acendendo — eis a chama que ninguém consegue apagar.
Desafio prático: troque opiniões prontas por convicções bíblicas. Separe 30 minutos por dia nesta semana para ler Atos 7 em paralelo com Gênesis e Êxodo (as fontes do sermão de Estêvão). Ore antes: “Senhor, abre meus olhos.” Anote onde a narrativa aponta para Cristo e identifique seus “templos pessoais” que precisam ceder à presença de Deus. Memorize um trecho, medite nele e obedeça em algo concreto. Assim, Espírito e Palavra formarão em você uma mente iluminada, e sua voz ganhará o peso da eternidade — como a de Estêvão, resistente a toda resistência.
3️⃣ Uma fé que permanece firme até o fim – Atos 7:54–60
Atos 7:55–56: “Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus, e Jesus, que estava à direita de Deus, e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à direita de Deus.”
O que sustentaria sua fé se todos ao redor odiassem o Cristo que você ama?
Essa pergunta ecoa no coração de quem lê a história de Estêvão, o primeiro mártir cristão. Ele não apenas falou sobre Cristo — ele viveu como Cristo. Quando as pedras se ergueram, sua resposta não foi desespero, mas visão, confiança e perdão. Enquanto o Sinédrio o apedrejava, Estêvão viu “o céu aberto e Jesus em pé à direita de Deus” (At 7:55). Essa imagem é poderosa: o Cristo que normalmente é descrito sentado à direita do Pai agora se levanta, como um Rei que acolhe pessoalmente o servo que O confessou até o fim.
Os líderes religiosos estavam cheios de ira, mas Estêvão estava cheio do Espírito Santo. A diferença não estava nas circunstâncias, mas no foco do olhar. Enquanto eles olhavam para baixo, ele olhava para o alto. O texto original usa a expressão grega tous ouranous dienoigmenous, “os céus abertos”, indicando uma revelação contínua. Estêvão via a realidade invisível de Deus mesmo em meio à violência visível dos homens. Sua fé transcendeu o medo porque seus olhos estavam firmes na eternidade.
Ao cair, ele clamou: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” — as mesmas palavras de Cristo na cruz (Lc 23:46). E, ajoelhado entre as pedras, orou: “Senhor, não lhes imputes este pecado” (At 7:60). Ele não apenas citou Jesus, mas repetiu Sua atitude, tornando-se uma encarnação viva do Evangelho. A fé de Estêvão não o livrou da morte, mas o conduziu a uma morte semelhante à de seu Mestre — em paz, perdoando e confiando.
Essa cena marca também uma virada histórica: a morte de Estêvão foi a semente do crescimento da Igreja. Atos 8:1 relata que a perseguição se espalhou, levando o Evangelho para fora de Jerusalém. O sangue do mártir tornou-se fertilizante para a missão. O historiador Eusébio de Cesareia afirma que o testemunho de Estêvão influenciou profundamente Saulo de Tarso, que presenciou o apedrejamento e “guardava as vestes dos que o matavam” (At 7:58). Agostinho resumiu esse impacto com uma frase que atravessou os séculos: “Se Estêvão não tivesse orado, a Igreja não teria Paulo.”
Paulo mais tarde escreveria: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2Tm 4:7–8) — palavras que soam como um eco do exemplo que viu naquele dia. Estêvão plantou em Saulo o modelo de fidelidade até o fim, e o Espírito fez florescer o apóstolo que mudaria o mundo.
A oração de Estêvão também cumpre as palavras de Jesus: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt 5:44). Ele mostra que o poder do Evangelho não está na resistência física, mas na resistência espiritual — na capacidade de amar quando o mundo odeia. O olhar de Estêvão estava no alto, e é esse olhar que transforma a cruz em vitória.
O teólogo John Stott escreveu: “O segredo da firmeza de Estêvão não foi coragem natural, mas visão espiritual. Ele viu a glória antes de sentir a dor.” E Max Lucado complementa: “Quando você olha para Cristo, as pedras da vida perdem o peso.” Essas palavras resumem a lição eterna do texto: a fé madura não busca escapar da dor, mas enxergar Cristo através dela.
Talvez você também esteja enfrentando suas próprias pedras — críticas, perdas, injustiças, rejeições. A tentação é fugir, revidar ou desistir. Mas Estêvão nos ensina que a vitória não está em vencer debates ou escapar das dores; a vitória é permanecer fiel, perdoar e confiar até o fim.
Hoje, Cristo continua em pé, esperando por aqueles que permanecem firmes sob o peso da pressão. Por isso, ore como Estêvão orou:
🌿 “Senhor, recebe o meu espírito e me ensina a amar mesmo sob pressão.”
E lembre-se: a fé que resiste até o fim é aquela que enxerga o céu aberto enquanto o mundo lança pedras.
Conclusão
Estêvão morreu, mas sua morte não foi o fim — foi o início de algo maior. O sangue derramado naquele dia regou o solo onde floresceria a fé de milhões. Seu último suspiro foi o primeiro eco de um cristianismo que não se rende ao medo, porque sabe que a vida não termina quando o corpo cai, mas quando a fé se apaga.
Assim é o chamado de Deus a cada um de nós: ser testemunhas vivas, mesmo quando o mundo não entende. Quando somos cheios do Espírito, nossa voz não é abafada pelas pedras da oposição, porque o Espírito faz de cada golpe um instrumento de edificação. Como afirmou John Wesley, “o mundo é meu púlpito”; e, para Estêvão, até o campo da morte se tornou altar.
O exemplo dele nos lembra que a fidelidade é a semente que atravessa o tempo. Paulo nasceu da oração de um mártir. Igrejas surgiram da coragem dos perseguidos. E hoje, ainda que o cenário mude, Deus continua escrevendo histórias eternas com vidas dispostas a permanecer firmes.
Se você colocar em prática esse ensino — servir com humildade, estudar com profundidade, perseverar com fidelidade — sua vida também se tornará mensagem. O Espírito Santo não busca heróis perfeitos, mas servos disponíveis.
Talvez as pedras do seu caminho sejam diferentes — críticas, perdas, rejeições. Mas nelas, Deus pode plantar flores. Ele transforma o chão duro da dor em solo fértil de propósito. Como dizia Elisabeth Elliot, viúva do missionário Jim Elliot, “a entrega total nunca é perda; é sempre ganho, porque quem perde por amor a Cristo encontra sentido até no sofrimento.”
Por isso, não tema o preço da fidelidade. É melhor morrer de pé com Cristo do que viver de joelhos diante do medo. As pedras não vencem quem aprendeu a olhar para o céu aberto.
📖 “Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida.” (Ap 2:10)
E quando chegar a hora da prova, lembre-se de Estêvão — e repita a sua oração:
🌿 “Senhor, recebe o meu espírito e me ensina a amar mesmo sob pressão.”
Porque, no fim, a verdadeira vitória não é sobreviver — é permanecer fiel.




