Como enfrentar a solidão – Parte I
Salmo 23.1-6, Salmo 25.11-18, lsaías41.10
Uma conversa sobre solidão facilmente pode começar com as seguintes frases: “Eu não gosto de ficar sozinho”. Alguém responde: “Eu acho que ficar sozinho em alguns momentos é a melhor coisa que pode acontecer”.
Se analisarmos com cuidado, veremos que essas duas opiniões se referem a coisas diferentes. A primeira pessoa referiu-se à solidão e a segunda ao isolamento espontâneo. É muito importante distinguir um conceito do outro. Para esclarecer essa diferença vamos observar a vida de Jesus.
I. Que é solidão?
Há duas situações da vida de Cristo, encontradas nos Evangelhos, que podem ser relacionadas a isolar-se espontaneamente e solidão (podemos dar como sinônimo, abandono). Em Mateus 14.23, Jesus escolheu ficar sozinho para orar. Note bem, Ele não foi abandonado ou deixado só. Foi Sua escolha isolar-se com um propósito bem definido: orar. Após um dia inteiro de pregação, Ele Se retirou para falar com o Pai em repouso espiritual. Geralmente definimos essa atitude como isolamento espontâneo.
No relato da crucificação em Mateus 27, temos o momento em que o próprio Jesus tomou sobre Si os nossos pecados e então Se sentiu muito só, clamando a Deus, em oração, exprimindo tal sofrimento. Naquele momento, Jesus experimentou solidão (isso é: isolamento forçado). É bom perceber a diferença entre isolamento espontâneo e isolamento forçado. Não foi Ele quem deixou as pessoas para ficar sozinho, mas sim as circunstâncias em que vivia fizeram com que experimentasse a solidão (Mt 27.46).
Com base nesses dois fatos vividos por Jesus, observemos o quadro a seguir:

Podemos concluir então que isolamento pode ser um tempo a sós, planejada e com objetivo específico. A solidão é a dolorosa constatação de que não existem relacionamentos significativos na vida, independente de quantas pessoas estão ao nosso redor.
Você já viveu momentos de isolamento espontâneo em comunhão com Deus? Ou suas experiências, quando você está só, têm sido dolorosas, de opressão e dor?
II. A Bíblia e a solidão
Além de Jesus, que nos ensina sobre solidão através de Sua vida, existem outros personagens bíblicos que também passaram por momentos como esses e que servem de apoio e ensino pra nós. Graças a Deus que chamou homens comuns para Sua obra; que eram sujeitos às mesmas questões que nós e que, às vezes, enfrentavam lutas semelhantes e são modelos para a vida de cada um de nós. Vamos examinar mais alguns textos bíblicos muito importantes para o nosso estudo.
Comecemos pelo relato da criação quando Deus viu que não era bom que o homem ficasse só, pois os animais não eram companhia equivalente. O fato de Deus perceber e suprir essa necessidade nos mostra a interdependência e a necessidade humana de se relacionar (Gn 2.18). Grandes líderes do Antigo Testamento também passaram por momentos como esse. Podemos citar Moisés quando matou o egípcio (Êx 2.12-14); Elias na caverna (lRs 19.9); Jó, quando sofria, e mesmo cercado de amigos, não encontrou neles companhia, pois apenas estavam lá para condená-lo (jó 3); Oseias pregou solitário após sua esposa abandonar o lar (cap. 1 e 2); Jeremias; Neemias; cada um Deles, vez por outra, pagou no ministério o preço de levar um projeto sozinho e, de vez em quando, seguido de oposição.
Ainda podemos observar, no Novo Testamento, todos os mandamentos de mutualidade, aqueles que terminam sempre com a expressão “uns aos outros”, que indica a importância de não andarmos sozinhos. São mais de 30 exemplos de solidão no Novo Testamento.
Esses textos mostram o que é a solidão e nos avisam que todos podemos enfrentá-la um dia, mas também trazem o consolo da vitória sobre ela através da confiança e do relacionamento com o Deus soberano.
Conclusão
Viver em solidão não é agradável, mas os momentos de solidão podem se transformar em grandes bênçãos em nossa vida se aprendermos a tirar vantagem dessa situação. Podemos desenvolver maior intimidade com Deus, obtendo mais conhecimento de Sua Palavra, aprendendo a orar de forma mais correta, crescendo em graça, sendo fortalecidos pelo
Senhor para podermos enfrentar os desafios da vida com uma correta perspectiva das coisas. “Bom é ter esperança, e aguardar em silêncio a salvação do Senhor” (Lamentações 3:26).